O Montado de Sobro – Tendências e Desafios

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O que podemos esperar da evolução das florestas de sobreiros nos próximos anos? Conheça as principais tendências e desafios que vão impactar o Montado, um dos mais ricos ecossistemas do mundo.

Perspetiva macro do tronco do sobreiro
mac231, pixabay

Sumário:

  1. Caracterização do Montado de Sobro
  2. Tendências
  3. Desafios
  4. Medidas para a melhoria do desempenho climático do Montado de Sobro
  5. Conclusão

1. Caracterização do Montado de Sobro

As florestas de sobreiro ocupam uma pequena área do planeta, mas são muito importantes pelos produtos e serviços que oferecem. Encontram-se nas zonas mais quentes do Mediterrâneo ocidental, especialmente na Península Ibérica, em Marrocos, Itália, França, Argélia e Tunísia.

Estas florestas cobrem aproximadamente 2,123 milhões de hectares globalmente, com 67% na Europa e 33% no Norte de África.

Distribuição geográfica do Montado

Os sobreiros prosperam em regiões com mais de 600 mm de precipitação anual e temperaturas médias de cerca de 15°C, geralmente abaixo dos 800 metros de altitude na Europa. Crescem em solos ácidos, como granito e xisto, e menos frequentemente em calcário.

A cortiça, a casca do sobreiro, evoluiu para proteger a árvore de incêndios e seca, sendo um material altamente isolante. É impermeável, flutuante, resistente ao fogo e à abrasão, além de ser compressível, elástica e durável. A casca do sobreiro regenera-se após o descortiçamento, permitindo que as árvores atinjam idades superiores a 200 anos.

3 sobreiros recentemente descortiçados dentro de um Montado de Sobro

As florestas de sobreiros são exploradas em sistemas agro-florestais, combinando o cultivo de sobreiros com pastoreio e produção de cereais. Além da cortiça, os montados produzem carne, cereais, cogumelos, espargos, mel e ervas medicinais. Estas florestas são, portanto, ecossistemas economicamente diversificados e sustentáveis.

Ovelha adulta com cordeiro no Montado

2. Tendências

Nos próximos anos, será expectável que as florestas de sobreiros sejam impactadas por estas tendências:

Gestão sustentável

Há um foco crescente em práticas que promovam a sustentabilidade do Montado, como a regeneração natural, preservação da biodiversidade e combate à desertificação. Isso inclui o uso de técnicas de manutenção que incentivem o equilíbrio entre a produção de cortiça e a conservação do ecossistema.

Resiliência climática

Com o avanço das mudanças climáticas, os Montados de sobreiros enfrentam desafios como o aumento das temperaturas, mudanças nos padrões de precipitação e maior risco de incêndios. A adaptação destas florestas será crucial para garantir a sua sobrevivência. Isso pode incluir selecionar espécies resistentes e implementar práticas que mitiguem os impactos climáticos.

Reconhecimento e valorização

A importância ecológica, económica e cultural do Montado de sobreiros é cada vez mais reconhecida globalmente. Isto pode resultar em políticas de conservação robustas, incentivos económicos para proprietários e foco na preservação destes ecossistemas únicos.

Inovação e novos produtos

A exploração de novas utilizações para a cortiça, além das rolhas e revestimentos, é uma tendência emergente. O desenvolvimento de produtos inovadores, como materiais de construção sustentáveis, aplicações na biotecnologia e novas formas de uso na indústria têxtil, é algo que podemos esperar nos próximos anos.

Turismo sustentável

A floresta de sobreiros, com a sua biodiversidade rica e paisagens únicas, está a tornar-se um ponto de interesse para o ecoturismo. Isto pode gerar novas oportunidades económicas para as comunidades locais, ao mesmo tempo que promove a consciencialização sobre a importância da conservação destes ecossistemas.

Paisagem de uma floresta de sobreiros
Retirado de Biodiversidade by The Navigator Company

3. Desafios

As paisagens naturais de sobreiros situam-se na bacia do Mediterrâneo, uma região muito sensível às alterações climáticas. A modelização das alterações climáticas sugere que a região mediterrânica sofrerá alterações ao nível de:

  • Padrões de precipitação: redução total, redistribuição anual, maior variação interanual e secas mais frequentes e prolongadas, etc.
  • Padrões de temperatura: aumento da temperatura média, ondas de calor mais frequentes, etc.
  • Frequência e intensidade de fenómenos extremos: tempestades, incêndios florestais, etc.

Concentração elevada de CO2 e fertilização com CO2

A resposta inicial das plantas ao CO2 elevado é aumentar a sua taxa de assimilação de carbono e diminuir a transpiração, ou perda de água, o que sugeriria uma maior produtividade e uma melhor eficiência hídrica. No entanto, estudos indicam que as alterações combinadas da temperatura e da precipitação nas próximas décadas irão modificar, e muitas vezes limitar, este efeito direto do CO2 nas plantas.

Os padrões irregulares de precipitação que caracterizam o Mediterrâneo serão exacerbados pelas alterações climáticas, que aumentarão não só a gravidade do stress hídrico das plantas, mas também a taxa de perdas de nutrientes do solo. Todos estes fatores combinados parecem sugerir uma maior mortalidade do sobreiro ou, pelo menos, uma perda de produtividade primária.

Os efeitos do aumento da temperatura no balanço de carbono do sobreiro podem ser negativos, no verão, devido a um aumento da respiração das plantas em relação à absorção e assimilação de carbono, e positivos no outono e inverno, ao reduzir as limitações à fotossíntese relacionadas com as baixas temperaturas.

Aumento da frequência dos incêndios florestais e de outras catástrofes naturais

A frequência de fenómenos meteorológicos extremos, como tempestades de vento, secas graves ou longos períodos de calor, irá provavelmente aumentar no futuro. Tais condições extremas, juntamente com um risco meteorológico acrescido de incêndios, aumentarão o risco de perdas de produtividade devido à mortalidade das árvores e à subsequente degradação dos solos.

Os sobreiros são reconhecidos pela sua resistência ao fogo. Contudo, e apesar dessa resistência, existe sempre alguma mortalidade associada ao fogo. As taxas de mortalidade podem variar de acordo com a densidade e o estado de saúde das árvores antes do incêndio, a densidade do combustível e as condições meteorológicas no momento do incêndio. Assim, o aumento da frequência e/ou intensidade do fogo conduzirá inevitavelmente a um aumento da mortalidade.

Efeitos nas comunidades e ecossistemas

Os sobreiros desempenham um papel fundamental nas comunidades ecológicas onde se encontram. Embora pouco estudados, mudanças no seu comportamento podem causar efeitos significativos na comunidade e no ecossistema. Por exemplo, as comunidades de fungos ectomicorrízicos, responsáveis por melhorar a aquisição de recursos pelos sobreiros, podem alterar-se em resposta à seca e ao aquecimento do solo, modificando o seu papel na absorção de nutrientes.

As alterações de temperatura podem também induzir mudanças descoordenadas na fenologia dos organismos em interação. Por exemplo, a infeção por fungos patogénicos, como Phytophthora cinnamon (um dos principais agentes de doenças radiculares que afeta o sobreiro) e Armillaria mellea, é favorecida por condições quentes e húmidas, o que significa que, na zona mediterrânica, o risco de agentes patogénicos invasivos pode aumentar, afetando a resiliência do sobreiro.

Processo de descortiçamento
Retirado de APCOR

4. Medidas para a melhoria do desempenho climático do Montado de Sobro

Para fazer face aos desafios que os sobreiros poderão enfrentar no futuro, é crucial que se promovam práticas de gestão sustentável destas paisagens naturais, tais como:

  • Promoção da regeneração natural para permitir a variabilidade genética e a possível seleção de genótipos tolerantes à seca, bem como a evolução futura para o equilíbrio com um novo ambiente;
  • Planeamento cuidadoso da plantação e seleção de genótipos adequados combinados com a regeneração natural para estimular uma migração que evite o stress;
  • Criação de corredores para evitar a fragmentação do habitat;
  • Promoção da saúde e a vitalidade do sobreiro;
  • Gestão florestal adaptada ao uso do solo;
  • Redução dos riscos de incêndio;
  • Diversificação das oportunidades de emprego no sector florestal;
  • Apoio público aos montados de sobro.
Porco preto alentejano no Montado de Sobro
Fotografia: © David Germano

5. Conclusão

Em resumo, o futuro do Montado enfrenta uma confluência de desafios e oportunidades. Por um lado, a gestão sustentável e a adaptação às mudanças climáticas serão essenciais para preservar estas florestas únicas, enquanto a inovação em produtos de cortiça e o ecoturismo abrem novas possibilidades. Contudo, as ameaças, como o aumento da frequência de incêndios e as mudanças climáticas, exigem medidas proativas para garantir a resiliência e a longevidade destes ecossistemas vitais. A proteção e a valorização do Montado serão fundamentais para a sua continuidade nos próximos anos.

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